Hector estava sentado em uma cadeira, ouvindo seu pai falar. Marshall não aceitava que aquela briga acabara daquela forma.
-E depois, você vem me dizer que apagou porquê não consegue usar seus poderes!? -Ele deu uma palmada no rosto. -Como!?
-Eu não sei. -Hector respondeu. -Sempre que eu paro de usar meu poder, meu corpo faz isso.
-Isso é idiotice! -Marshall gritou. -Idiotice!
Vanessa não aguentava assistir aquilo.
-Pare, Marshall. Hector tem esses poderes faz pouco tempo.
-Não importa! -Marshall protestou. -Se ele não aprender a controlar os poderes, isso vai continuar acontecendo!
-Marshall, ele tem doze anos. Você se lembra disso?
-E você acha que eu não sei!? Acha que aquelas pessoas se importam!?
-Pai... -Hector falou.
-NÃO! -Marshall bateu na parede.
Os três estavam no hospital de Arcádia, o pequeno quarto em que ficaram comportava duas camas, a segunda foi usada por Nathan, que havia saído cedo dali, quando Natasha e Nate foram até ali. Nate estava meio deprimido por causa da humilhação no dia anterior.
-PARE! -Vanessa gritou. -Se continuar assim, o Hector vai acabar se matando!
-Pense, Vanessa! Você se esqueceu das coisas que eles fizeram ano passado!?
-O passado não importa!
-IMPORTA, SIM! -Marshall berrou e se sentou na cama ao lado. -Importa. Eles mataram aquele garoto sem remorso.
Vanessa olhou para Marshall de cima para baixo. O homem estava respirando pesadamente.
-O quê foi? -Ela perguntou.
Ele olhou para ela, os olhos vidrados.
-Cedo ou tarde... Eles vão tentar matar o Hector.
-Não, eles não vão! Eles não podem!
-Eles tentaram me matar ontem. -Hector olhou com raiva para os dois. -Aquele cara arrancou a cabeça do Nate, arrancou as pernas do David. Eles mataram o Joe. Estão caçando meus amigos, e vocês dois querem ficar brigando feito crianças aqui? Vão cuidar da Kelly.
-Hector! -Vanessa gritou.
-Não. Eu não quero saber.
-Menino...
-Menino é o caralho. -Hector falou. -Vocês dois estão vendo como as coisas estão. Eles vão voltar, e é uma questão de tempo.
-Hector... -Vanessa olhou para Marshall. -Essa história de herói... Chega.
-Não!
-Sim. -Marshall disse. -Se continuar assim, você vai morrer.
-Se eu fugir agora, muito mais gente vai morrer.
-Os heróis de verdade vão cuidar disso.
-Heróis de verdade? -Hector sentiu um peso no peito. -Que heróis? Vocês!? O tio William!?
-Hector! -Marshall gritou.
-Quer saber, eu não ligo! Eu mesmo vou dar meu jeito, nem que eu morra!
-Chega! -Marshall gritou novamente.
-Não adianta gritar. -Hector falou.
Vanessa baixou o olhar.
-Você vai me abandonar assim? -Ela questionou.
-Não, mãe! -Ele disse.
Vanessa começou a chorar.
-Eu não consigo acreditar nisso. Não consigo!
-Mãe... -A respiração do garoto falhou. -Não... Eu não posso.
-Pode sim!
-Pare. -Marshall interrompeu. -Parem os dois.
-Você vai defender ele!?
-Vamos dar um tempo a ele. -Marshall disse. -Eu não quero perder... -Ele olhou para Hector. -Um filho.
Hector não disse mais nada.
Ele se levantou e saiu da sala, ignorando os protestos da mãe. Por um segundo, ele se sentiu um monstro. Mas ele não conseguia esquecer do olhar sádico de Majoris.
"Falhas. Mutantes sujos." Hector se lembrou de Majoris dizendo sobre David e Olívia. Como alguém podia ser tão ruim assim?
A raiva que ele sentia por Majoris falava mais alto que tudo. A forma como Scott surtou naquela manhã trouxe um pensamento ainda mais mórbido para Hector: se aquele era o presente no qual viviam, que tipo de horrores os aguarda no futuro?
Seria Ninguém um ser tão cruel quanto seus seguidores?
David estava quase morto. Julian e Jeff estavam internados em Gardeville, a Academia de Giorgio estava fechando. Os Mirai, pela primeira vez, enfrentavam uma crise. Era hora de ser o líder que Joe desejou que ele fosse.
Hector foi até o corredor, lá ele viu Chuck e Gordon conversando. Os homens pararam e olharam para ele.
-Oi. -Chuck disse. -O Scott acabou de ir dormir de novo.
-É. -Hector suspirou. -Eu não sei como a gente vai sair dessa.
-Sair dessa? -Chuck perguntou.
-É. -Hector assentiu. -A gente não pode ficar assim. Não tem como.
-O quê você quer!? -Gordon indagou. -Voltar atrás daquelas pessoas e morrer!?
-Calma. -Chuck falou. -Essa coisa de herói...
-Não. -Hector o interrompeu. -Não. Meu amigo morreu pelas mãos deles. Eles iam pegar a gente.
-AH, E AÍ VOCÊS VÃO LÁ, SALVAR O DIA!? -Gordon bradou.
Marshal e Vanessa saíram do quarto, e viram a cena.
Hector começou a calmamente andar na direção de Gordon.
-Sim. A gente vai. O senhor tem alguma coisa contra?
-Olha aqui, seu moleque...
-GORDON! -Marshall berrou. -ABAIXE O TOM PARA FALAR COM MEU FILHO!
-VOCÊ TÁ OUVINDO ESSA ASNEIRA!?
Marshall avançou e ficou entre Hector e Gordon, Chuck segurava Gordon.
-NÃO INTERESSA! ELE É MEU FILHO, SE FIZER QUALQUER COISA A ELE...
Um tremor sacudiu o corredor. Hector olhou para trás, Paul estava parado, em pé, seu punho abrira um buraco na parede.
-Quietos, babacas. -Paul disse.
Marshall se virou para ele.
-Você fica na sua!
-Pai... -Hector chamou.
-Não me venha com 'pai'!
Um grupo de pessoas começou a se reunir ali, vindas dos quartos. Eram os pais das crianças.
-Ei! -Camile gritou. -O quê está acontecendo?
-Nada. -Gordon falou.
Giorgio também estava ali, o coro o observou.
-Pessoal. -Giorgio chamou. -Precisamos conversar. As crianças precisam de nós agora.
-Fica na sua, velho. -Marshall falou. -Eu sei o quê é o melhor para o meu filho.
-Eu perguntei isso, senhor. Eu chamei para conversarmos sobre as crianças.
-Olha só seu... -Marshall falou, mas parou ao ver Giorgio indiferente.
-Por favor. -Vanessa pôs a mão no ombro do marido. -O quê você acha que a gente tem que conversar?
-Vocês sabem. -Giorgio disse, olhando para Hector. -Está na hora de abrir o jogo.
-Do quê estão falando? -Hector questionou.
-Você sabe. E nós também. -Giorgio olhou em volta, e então respondeu baixo: -Aureus.
Hector gelou.
-Eu... Preciso chamar o Zack. -Hector falou, e saiu andando.
Ele esperou protestos, mas não ouviu nada.
-Zack está na enfermaria. -Giorgio chamou. -Vá até lá, e avise ele.
Hector andou rapidamente em direção à enfermaria, ele precisava dar algum jeito de escapar daquela conversa.
Na enfermaria, ele viu diversas pessoas, ele reconheceu seus amigos, Matt estava sentado em uma das camas da enfermaria, Anne passava uma pomada em seu rosto. Erine conversava com Claire, enquanto Karen e Olívia falavam com as meninas. Myrella e Trixie andavam entre eles, tentando animar as crianças, que estavam deprimidas.
Zack estava sentado próximo à Max, que estava sentado numa cama, com Luci do lado. Tristan, Rory, Heather e Alex estavam sentados, conversando. A mão direita de Heather estava enfaixada.
A visão partia o coração de Hector, mas ao mesmo tempo lhe deu uma profunda esperança. Apesar de estarem totalmente destruídos, os Mirai estavam lidando com a crise. Estavam dando apoio aos amigos. Lá no fundo, eles realmente tinham um senso de equipe, de parceria. E talvez essa fosse a chave para vencer Majoris.
Hector respirou fundo, pensando em chamar Zack. Eles não estavam com Scott e David, e a falta deles pesava em sua consciência, assim como a de Joe.
-Zack! -Hector chamou. -Eu preciso falar com você.
Zack caminhou até ele, com o olhar baixo.
-Vamos pra fora daqui. -Ele olhou para Max. -Eu não quero ter que assistir isso.
-Cara... -Hector deu uma palmada em seu ombro. -Tudo bem!
Os dois foram até a recepção, onde uma mulher sorriu para eles.
-Sem os pais, ninguém sai.
-Ah... -Zack falou.
A palavra "ninguém" incomodou Hector.
-Tá bem. -Ele puxou Zack até a entrada da enfermaria.
-Acha que a gente vai sair dessa? -Zack perguntou.
Hector observou novamente. Ninguém ali parecia ter uma gota de esperança no olhar, somente desolação caía sobre eles naquela tarde.
-Nós vamos. -Hector disse, firmemente.
-Você parece confiante.
-Sim. É porquê eu sei que somos capazes. Você acha que não?
-O David perdeu as pernas ontem. Ele está a um fio de morrer. O Scott surtou e quase matou todo mundo. O Max tá chorando por causa da Sherry; que não achamos, igual não achamos a Vickie, a Tammy, o Nosferatu, a Starla, o Julian, a Martha, o Jeff e o namorado da Vickie também...
-Eles não estão perdidos, Zack. Eu prometo que nós vamos achar eles. Vamos fazer tudo ficar bem outra vez.
-Hector, as coisas não vão melhorar. Vai me dizer que você superou a morte do Joe? Superou?
-Eu... -Hector não sabia como responder. -Eu não sei.
-Então. Nós perdemos. A gente devia parar com isso. Nós vamos morrer.
-Não! Não podemos!
-Por quê?
-Porquê eles vão voltar! Vão voltar e nunca vão descansar enquanto a gente não dar um fim a essa história!
-Hector... O fim que a gente pode dar é a morte. Desista.
-Zack, eu não posso. Nós somos os únicos que podemos.
-A Luci viu a gente perdendo, lembra?
-Sim. Mas a gente pode vencer. Confia em mim.
-Eu não consigo acreditar que a gente vai vencer.
-Zack, a gente vai!
-Tá bem. Qual é o plano.
Hector coçou a cabeça.
-Bem, temos um problema. A gente vai ter que fazer uma reunião com nossos pais e o Giorgio.
-Pra quê? Pra dar adeus de vez antes de morrer?
-Eles sabem.
-Sabem... De quê?
Hector olhou em volta, vendo os amigos, alguns olhavam para eles.
-Do Aureus.
-Ah, cara, isso é brincadeira, né?
-O Giorgio me disse antes que vai querer marcar uma reunião. Eu preciso de você para me ajudar a convencer eles.
-Precisa? Hector, eu sou só...
-Só o mais inteligente dos Mirai. E é por isso que você vai me ajudar.
-Não tem jeito, Hector.
-Eu sei que não. Por isso que vou convencer nossos pais a nos ajudar.
-O quê?
-Eu tenho um plano. E ele é idiota, igual eu. Você precisa fazer ele parecer esperto.
-Que merda.