Erine, apoiada à sacada, chorava.
"Eu vou estar sempre aqui com você, meu amor..."
Joe parecia apenas um fantasma. Apenas uma lembrança distante de uma época cheia de nostalgia, época que ela jamais viveria outra vez.
Paul e Matt estavam quietos atrás dela. Karen e Martha estavam a seu lado, apoiando-a.
-Sabe, amiga, a gente devia ir embora desse shopping e nunca mais voltar. -Martha falou. -Isso te faz mal. Muito mal.
-É. Eu sei. -Ela disse entre soluços.
-Não que isso vá resolver alguma coisa, mas seria bom deixar esse lugar maldito para trás. -Karen disse.
-Eu vou superar isso. -Erine falou, e então desabou em lágrimas. -Eu só... Eu só preciso de um tempo...
-Tem razão. -Karen baixou o olhar.
Matt se aproximou delas e começou a chacoalhar Martha.
-O quê...? -Martha franziu o rosto. Ela parou quando viu que Matt apontava para o pátio do estacionamento. -Ah, merda.
-O quê foi? -Karen olhou para lá.
Lá longe, um pequeno banco de madeira se destacava. Dois homens se sentavam lá. O homem da esquerda era magro, possuía cabelos e barba castanhos. Ele tinha um olhar abatido. O da direita era um homem careca e baixinho, que sorria olhando na direção deles.
-Julian! -Martha exclamou.
O homem careca fez um sinal para eles se aproximarem.
-Matt, fica aqui. -Paul disse. -Eu vou descer lá e ver o quê aquele cara quer. Meninas, fiquem de olho nas crianças.
-Eu vou com você. -Erine disse.
-Não. -Paul falou.
-Sim. Eu não vou ficar quieta nessa situação. Vamos.
-Mas amiga...
-Olhem as crianças. -Erine disse enquanto se virava e atravessava o shopping.
Os dois rapidamente saíram no estacionamento, onde viram o banco com Julian e o homem sentados.
-Ei! -Paul gritou. -Quem é você!?
-Olá. -O homem sorriu. -Eu sou Majoris. Vim devolver o seu professor.
-O quê? -Erine olhou em volta. Estavam sozinhos.
-O quê você quer? -Paul exclamou.
-Devolver o Julian.
Julian estava em silêncio mortal.
-Julian? -Erine chamou de longe.
Julian se voltou para eles.
-Saiam daqui. -Ele parecia triste e deprimido. -Eles são muito mais espertos que nós.
-É, nós somos. -Majoris sorriu.
Paul avançou violentamente e ergueu Majoris pelo pescoço.
-Não toque nele! -Julian gritou.
Majoris riu.
-Pobrezinho, nem pensou nas consequências.
-O quê? -Paul exclamou.
Julian se levantou rapidamente.
-Merda! Erine, corre! -Ele se pôs entre Erine e eles. -Majoris pode controlar quem ele toca!
-Não! -Erine recuou.
-Sim. -Majoris disse, sendo posto no chão por Paul. -Agora, se me dão licença, preciso ir buscar os receptáculos.
Paul se virou para eles.
-Pessoal, eu não consigo me controlar... Fujam.
Erine e Julian correram. Erine pode ouvir os passos de Paul atrás deles. Ela entrou rapidamente pela porta e tropeçou. Julian caiu ao lado dela também.
Eles se sentaram e olharam para trás, e viram uma mulher em pé, rindo.
A mulher era magra e alta, sua pele de tom médio reluzia com as luzes do local. Seu cabelo escuro estava preso em um rabo de cavalo.
-Tolinhos. -Ela riu.
-LEVANTEM! -Paul disse entrando pela porta.
-Calma, querido. -A mulher riu. -Tem muita gente aqui dentro. Eles podem achar que você é um maluco e te prender.
-O quê? -Paul disse quando ele subitamente caiu.
-Entendam, nós precisamos evitar chamar a atenção. Mas vocês Mirai não pensaram nisso.
-Quem é você, sua cadela!? -Erine bradou.
-Cadela? Que horror! -A mulher riu. -Eu sou a Pálida. Sou a artilharia da equipe Majoris. Queria ver o quão interessante vocês são. Mas parece que nem um pouco.
-Cadê o Majoris!? -Paul bradou.
-Correu para um abrigo. Lá de dentro ele tá vendo todos vocês.
-Filhos da puta! -Julian gritou. -Fiquem longe dos meus alunos!
-Cuidado com a boca. -Pálida riu. -Se o Blecaute escutar, vocês estão condenados.
-Blecaute? -Erine questionou. -Quem é Blecaute?
-O diabo em pessoa. -Pálida riu. -Rezem para que ele não se incomode com vocês.
-Ou o quê? -Paul começou a se levantar, quando uma multidão começou a correr em direção à saída do Shopping.
Martha e Matt vieram correndo em sua direção.
-O quê estão fazendo!? -Martha gritou. -Paul, o quê houve?
-Martha? Cadê o resto? -Erine olhou para eles, e então percebeu que Pálida havia corrido para a multidão, se misturando.
-Eu não sei, eu saí com o Matt pra vir atrás de vocês e essa multidão começou a descer da praça de ali- Ela foi interrompida quando o aviso de evacuação imediata começou.
-Merda, as crianças! -Erine bradou, e começou a correr para os andares superiores.
Anne corria freneticamente, procurando seus amigos. Ela se distraiu por alguns segundos e então se perdeu de todos. Desesperada, ela tentava correr contra a multidão. Ainda assim, era difícil usar seu poder de alta velocidade quando não encontrava um bom local de apoio. Ela desviava e esquivava enquanto as pessoas passavam por elas.
Pânico total se espalhava pelo shopping, crianças gritavam, famílias corriam, choro e falação preenchiam o espaço.
Por que diabos uma evacuação? Seria a Hazard? Ou seriam os Mirai?
-OLÍVIA! -Ela berrou. -LUCI!
Nenhuma resposta. De longe, ela viu Julian. Mas não ousou se aproximar, já que ele estava com Erine.
Ela se virou e começou a correr na direção oposta.
-Saiam, licença, preciso achar minha amiga! -Ela gritava enquanto se esbarrava com as pessoas.
Ela caiu e se levantou rapidamente, sendo empurrada por pessoas que passavam por ali. Após alguns minutos de esforço, ela conseguiu sair em um corredor. Silêncio total. Todas as pessoas saíram dali. Mas ela não deveria sair. Sabia que os Mirai estariam lá. Ela olhou para o punho, e encarou a marca verde que surgiu brilhando.
Por um momento, ela sentiu todos os seus amigos. Ou talvez seus colegas. Ali ao lado havia um. Ela correu desesperada, e parou quando viu Nathan e Nate se esgueirando para fora do fliperama.
-Opa! -Ela se assustou. -O-olá?
Nathan parou e olhou para ela.
-Ah! Oi, você é aquela garota Anne, né? -Ele perguntou.
-Isso! Você é o... Desculpa?
-Nathan. Esse é meu irmão Nate.
-Você é amiga dele? -Nate perguntou enquanto sorria.
-Sou amiga dos amigos dele. Desculpem. Não vou incomodar.
-Calma! -Nathan disse. -Fica com a gente. -É perigoso andar por aí assim.
-Têm certeza? As pessoas não gostam muito de mim.
-Tudo bem. -Nate falou. -Eu não me importo com os outros. Fiquem perto de mim, os dois.
Anne se sentiu estranhamente confortada por aquelas palavras.
-Tá bem...
-Que meigo! -Uma voz ecoou atrás deles.
Um homem de cabelos loiros sorria olhando para eles. Seus olhos azuis brilhavam com um olhar sádico. Ele usava um manto azul da Gyazom.
-Assassino! -Nathan gritou.
-E aí, bonitão. -O homem sorriu para Nate. -Por acaso você quer tomar um chá e conversar? Ou prefere brigar?
-Quer falar sobre o quê? -Nate questionou.
-Ah, você sabe. Os Mirai são agressivos demais. Eu queria alguém espero, maduro. Meu nome é Velo.
-O quê você quer com os Mirai, Velo? -Nate andou na direção de Velo.
-Eu não quero nada. O Oblivion quer conhecer os garotos porquê acha que eles são dignos de mudar o mundo.
-Mudar?
-Não me pergunte. Eu só faço isso porquê sou pago.
-Um mercenário.
-Não. Um assassino de carteira assinada. -Velo riu. -Meus colegas estão todos se preparando para emboscar os Mirai. Se você ajudar a gente a cooperar, vai ficar tudo bem. Que tal?
-Não gosto disso. Nathan, Anne, avisem eles. Eu vou dar um jeito nesse aqui.
Nathan pegou a mão de Anne, surpreendendo a garota com sua força descomunal.
-CORRE! -Ele berrou.
Os dois correram rapidamente até as escadas, onde avistaram Heather, Max, Sherry, Ralf, Zack e David descendo calmamente.
-Ei! -Anne gritou.
-O quê? -David sorriu ao vê-los. -É isso aí!
-São eles mesmo? -Max gritou.
-Devem ser! -David foi até eles.
-David! Puta merda, um assassino da Gyazom apareceu! Meu irmão tá segurando ele! Cadê o resto?
-A gente tá procurando.
-Vamos atrás deles antes que a coisa fique feia! -Zack falou.
-Não, vamos atrás dos outros! -Nathan gritou. -Precisamos achar o resto do grupo!
-Ele tem razão! -Ralf gritou. -A gente precisa achar a galera antes que a Starla chegue!
-É verdade! -Heather falou. -O Nosferatu sabe de muitas coisas, temos que proteger ele!
-Vamos atrás do Hector, então! -Zack gritou.
-Isso! -Nathan concordou.
O grupo desceu rapidamente as escadas.
Hector, Scott, Alex, Trixie e Claire corriam pelos corredores agora desertos.
-Que merda que foi acontecer lá em cima? -Scott gritou.
-Eu não sei! -Hector respondeu.
-Será que foi a Gyazom?
-Deve ter sido.
-E se foi a Hazard? -Claire sugeriu. -Eles ficam fazendo essas merdas! E a Vickie tava aqui. Aposto que ela é da Hazard!
-Claire você tá inventando coisa! -Trixie disse.
-Você e a Vickie não se gostam, mas isso não é motivo para ficar surtando! -Alex falou.
-Eu, surtando? Quando é que vocês...
-CALEM A PORRA DA BOCA! -Scott berrou. -IDIOTAS, ISSO AQUI NÃO É A BRINCADEIRINHA DE MULHER DE VOCÊS, SE QUEREM BRIGAR, BRIGUEM COM A GYAZOM!
-Caralho... -Hector murmurou.
-Scott! -Alex exclamou.
Scott se virou com um olhar sanguinário.
-O quê foi!?
-Nada...
-Scott... -Claire engoliu. -Desculpa.
-Vão se foder. -Scott saiu andando sozinho.
O garoto parou e olhou para uma esquina na dobra de corredores.
-Ah, que merda. -A voz de Scott ecoou do outro lado do corredor.
-O quê? -Hector foi correndo até ali.
Outro Scott estava parado no fim do corredor, na saída de uma loja.
-Vai me dizer que você é o verdadeiro? -Hector perguntou.
Ao seu lado, Scott pôs a mão em frente a Hector.
-Desembucha. Você tem quinze segundos.
-Vocês dois... -O homúnculo sorriu. -Os eleitos.
O falso Scott subitamente derreteu.
-O quê ele queria? Isso foi bem idiota. -Hector falou. -Eu esperava mais dele.
-Eu também. -Uma voz veio de dentro de uma loja ao seu lado. -Mas parece que o Hikiro decidiu que vocês dois são ótimos.
Majoris saiu de dentro da loja.
-Quem é você!? -Claire bradou.
-Eu sou Majoris. Sou o líder da equipe Majoris.
-O palhaço que enviou esses homúnculos! -Hector gritou. -O quê você quer? Já falei ao Crash que não queria ser o receptáculo de porra nenhuma!
-Não? -Majoris ergueu a sobrancelha. -Eu soube que você e o Scott iriam vir com ele para o nosso quartel general.
-A gente mudou de ideia. -Scott disse. -Já que aqueles caras não passavam de uns bostas.
-Pois é. -Majoris entrelaçou as mãos e sorriu. -Gostei de você, Scott. O pingo também. Veja bem, garotões, eu posso abrir uma exceção aqui. Vocês dois, junto da Olívia vão conosco.
-Não. -Scott respondeu.
-Não? Bem, eu sei que é incômodo falar isto. A Olívia abandonou o Hikiro lá na organização ano passado. O coitado amava ela. E foi enganado. Acham isso bonito?
-Sim. -Scott e Hector responderam.
-Um imbecil que não sabe lidar com um pé na bunda merece! -Claire gritou.
-Não foi isso, crianças. Olívia fugiu com um homem mais velho. Hikiro fez de tudo por ela. Ele a levou até a Gyazom e a permitiu uma posição de prestígio lá dentro. Ela seria incrível e teria uma ótima vida. Mas preferiu fugir com um velho nojento. Acham isso justo?
-Não... -Trixie falou. -Ela traiu ele.
-Cala a boca, Trixie. -Scott bradou. -Você é idiota de cair nesse papo!
-Mas cara, olha o quê ela... -Alex a agarrou por trás e segurou sua boca.
-Alex!? -Claire gritou.
-Essa idiota vai se deixar manipular por esse nojento! Peguem ele!
-Ela tem razão. -Claire disse. -Majoris, desista. Você não quer nos arrastar até lá.
-De fato. -Majoris começou a andar de um lado para o outro. -Tem muitas coisas que não prestam neste mundo, Mirai. Oblivion, por exemplo. Ele é uma falha do nosso criador.
-Criador? -Hector perguntou. -Você é um fanático religioso, é?
Alex e Trixie pararam de brigar.
-Não. -Majoris disse. -Nós fomos todos criados para termos um mundo em nossas mãos. Mas então, certas coisas foram criadas. Falhas, mutantes sujos. Veja, Hector, você, a Claire e a Trixie tem uma coisa que os faz mais incríveis que todos. Scott, você tem um pouquinho dos genes malfeitos. Mas você pode corrigir isso.
-O quê? -Scott olhou para Hector, Claire e Trixie. O quê eles tinham de bom e ele nem tanto?
-Isso nem faz sentido! -Hector falou. -Por acaso o Scott ser mais baixinho faz dele um problema?
-Não. Nada disso. Veja bem, Olívia e o garoto David são os piores! Eles dois precisam ser purificados! Mas não pensem nisso. Nós queremos um mundo belo, um mundo correto e moral. Por isso fomos recrutados pelo nosso líder!
-É da personalidade? -Hector ergueu a sobrancelha. -O David e a Olívia não são tão...
-HECTOR, ELE É UM RACISTA! -Alex berrou. -ACORDA, SEU IMBECIL!
-Espera... -Hector franziu as sobrancelhas. -Então...
-Calma. -Majoris fez um sinal. -Me entenda, vocês podem me corrigir se conseguir seguir o plano do nosso líder!
-Líder? -Hector perguntou. -Mas se não é o Oblivion que lidera a divisão de comando... -Hector percebeu a quem Majoris se referia. O Rei do Mal.
-Não, Oblivion é um comandante, mas ele obedece ordens também.
-Ei! -Claire gritou. -Por que você tá fazendo isso!?
-Porquê o mundo é sujo e depravado. Precisamos de correção.
-E quem disse que vocês podem!?
-Ninguém disse isso!
-Como não? -Scott gritou. -Você teve uma revelação divina nessa cabeça oca aí!?
-Deve ser por isso que o cabelo caiu! -Trixie riu, depois de se soltar de Alex.
-A piada não tem sentido nenhum. -Majoris a olhou.
Hector parou por um segundo. Ele pensou em Zack e na forma que os dois passaram a semana planejando algo.
-Ei... -Hector chamou. -Você disse que ninguém mandou.
-Sim. -Majoris sorriu.
-Que legal, vocês dois falam a mesma língua agora. -Scott debochou. -O que infernos vocês estão dizendo?
-Scott... -Hector olhou para ele. -Gyazom tem um membro chamado Ninguém. Eu acho que ele...
-Ninguém? -Scott ergueu a sobrancelha. -E o quê isso significa?
-Eu acho que é ele. O cara que a gente tem que parar.
-O Rei do Mal você diz? -Scott pareceu levemente assustado.
-É. Majoris... Esse Ninguém... O quê ele é?
-Importa?
-Responda! -Claire gritou.
-Certo, mãe. -Majoris riu. -Mãe. Hahahaha, que idiotice. Ninguém é nosso deus salvador. Ele é o líder e fundador da nossa organização.
-Puta que pariu. -Hector falou. -SCOTT, A GENTE SABE O QUÊ PRECISAVA! HORA DE METER O PÉ!
Hector invocou Glória usando sua runa de guardar, e atirou-a. Majoris desviou, e Scott ativou sua marca.
-RELÂMPAGO ESMERALDA!
A explosão fez Majoris voar para longe, pousando de costas no chão, inconsciente.
-IDIOTAS! -Uma voz ecoou de trás deles. -DEVERIAM TER SE COMPORTADO!
Era Pingo.
Scott e Hector se prepararam, Trixie, Claire e Alex correram. Pingo estendeu a palma da mão, como se fosse fazer um golpe de kung-fu.
-PODE VIR! -Hector berrou.
-MORRAM! -Pingo gritou.
Da palma de sua mão uma explosão emergiu. Scott e Hector apenas tiveram tempo de cobrir o rosto, e decolaram para longe, completamente desnorteados.