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Chapter 76 - De Volta Para Casa

Scott abriu os olhos. Sua visão estava turva, e ele via apenas um homem acima dele. Os dois estavam em meio à uma floresta.

O homem se aproximou. Parecia estar se agachando sobre Scott.

-E aí, cara, tudo bem? -O homem perguntou.

-Eu... -Scott tentou se mexer, mas seus ossos pareciam pesados, uma dor imensa fez ele estremecer. -Eu... Não consigo...

-Não consegue se mexer. -O homem se aproximou, e Scott viu que era apenas um jovem rapaz. -Não tente. Você está no meio de um lapso.

-Como você...? -Scott mexeu a cabeça, e seu pescoço doeu. Parecia que seus músculos estavam se retorcendo e quase se arrebentando.

-Eu já sei sobre os problemas que você vem tendo. Bem, meu nome é Jake, Jake Ardenbrough. Eu já conheço você há um tempo. Mas se eu disser seu nome o lapso vai acabar. Acho que você já sabe disso.

-Merda. Eu acho que eu devia te avisar agora então... Estamos em perigo... E eu não sei como resolver essa situação.

-Não? Eu não estou em perigo. Se você puder me dizer um lugar para deixar alguma mensagem, ou uma forma de preparar uma solução...

-Não sei ainda. Mas acho que... Você deve... Tem uns caras por aí, eles querem acabar com o mundo.

-Mas isso é burrice. Ninguém pode fazer isso. Para onde eles vão se destruírem tudo?

-Eles são loucos... Querem destruir e acabar com tudo por nada. Eles sabem como fazer isso... Você precisa... Você precisa achar o Aureus antes deles...

Com essas palavras, Scott saiu do lapso.

Ele acordou, de manhã, suado. Ele estava em seu quarto, no campo Mera. Ele se sentou na cama. A noite passada... Havia consumido tanto dele...

-Coragem, Scott. -Ele disse para si mesmo.

Ele se levantou. Quando ficou em pé, percebeu o silêncio que a Mansão Emanava. Tudo estava tão... Solitário. Era como se todos tivessem morrido. Ele saiu do quarto, com cuidado. Cada passo parecia ecoar pelos corredores de madeira.

Ele ouviu vozes. Scott caminhou pela mansão, e ao descer para a sala principal, viu seus colegas. Todos conversando e comendo, mas uma aura sombria preenchia aquela manhã. Ele viu Heather sentada em um canto com Trixie. Nenhuma das duas sorria.

Zack e Tristan estavam quietos, e não comiam nada. Scott foi até eles.

-Oi. -Ele disse.

-Oi, Scott. -Zack respondeu.

-Oi. Teve pesadelos também? -Tristan olhou para ele.

-Não.

-Você foi o único, então. -Tristan baixou o olhar. -Aquele cara de ontem... Morreu e...

Tristan suspirou e ficou em silêncio.

-Como você conseguiu dormir hoje? -Zack questionou.

-Eu tive um lapso. Preciso falar com você.

-E com quem mais?

-Só você, por enquanto. Os outros vão saber depois.

-O quê?

-Só vem, cara. -Scott olhou para ele, com um olhar de dor. -As coisas estão piorando.

-Como assim?

-Eu falei com alguém.

-Durante o lapso?

-É.

-Mas que merda... -Zack olhou sério para ele. -Tem certeza? O Hector pode saber mais quê....

-Cala a boca.

-Desculpa. Vamos.

Scott levou Zack até a cozinha, e pegou alguns pães de queijo para comer, e os levou em um pote com ele. Eles foram para o lado de fora, e se sentaram em um banco próximo a uma estátua.

-Eu falei com o Jake Ardenbrough.

-Mas nem fodendo!

-É. Ele sabe, Zack. Sabe sobre os Lapsos. Eu avisei que estamos em perigo. Talvez... Talvez a gente possa conseguir mais tempo.

-Cara, isso vai ajudar muito a gente.

-Vai. E muito. Mas eu preciso de alguma ideia. Preciso de algum plano, e vou repassar para o Jake. Por isso preciso de você. Você é o cara inteligente aqui.

-Sei. Eu posso bolar algo. Só... Só quero tomar um tempo e descansar disso tudo. Todo mundo tá incomodado com as mortes e tudo o mais.

-É. Infelizmente. Mas eu preciso disso o mais cedo o possível, Zack. O inimigo não vai descansar. E eu não vou também.

-Scott...

-Não. A gente precisa fazer algo. Eu vou dar um jeito.

-Pode tentar. Mas não sei se vai dar certo.

-Tem que dar. Se eu só descansar... Se eu só descansar, a coisa toda vai pra merda.

-Isso é muita responsabilidade, Scott. Querer tomar uma decisão assim...

-É perigoso, eu sei. Ontem a noite, eu tentei meu melhor. Mas senti que não adiantou nada. Se não fosse o Hector...

-É. O Hector. Bem, aqueles caras amigos do William limparam a bagunça. Talvez...

-Talvez tudo dê certo.

-É. Aliás, parece que as férias no campo foram canceladas. Esses caras gostam de destruir nossa vida.

-Merda. Nossos pais devem estar loucos a essa hora.

-Vão querer proibir a gente de treinar.

-Mas agora é a hora da gente treinar e se preparar pra próxima merda.

-Cara, minha mãe vai...

-Sua mãe é uma idiota, burra de merda! Ela é igual ao meu pai, uma completa inútil! Só serve pra fazer merda! Se você calar a boca e deixar, ela vai te ferrar, seu idiota!

-CALA A BOCA! CARA, POR QUE FALAR ISSO?

-Porquê... Porquê eu me preocupo com você!

-Ei! -Julian interrompeu. -Parem de brigar.

Scott voltou a comer.

-Parei. -Scott virou o olhar.

-Galera, eu sei, a merda ontem foi feia. Muito feia. Não tem como alguém ficar tranquilo depois de tudo aquilo. Só que... Só que é assim mesmo. A vida às vezes só é uma vadia.

-Queria ser igual ao Hector às vezes. -Scott disse. -Ele quando quer fazer as coisas vai lá e faz. Eu fico... Procurando quem faça comigo...

-Scott... -Julian chamou. -Calma.

-Calma!? Eu tive calma! Sempre tive! E foi tendo calma e cuidado que eu deixei o Joe morrer! Se eu tivesse...

-Scott, cara, para. -Zack falou.

Scott jogou o pote de pães de queijo no chão.

-EU ODEIO PÃES DE QUEIJO!

Ele saiu andando, sem olhar para trás.

-Que desgraça. -Julian olhou para Zack, que chorava. -Deixa ele tomar um ar. Todo mundo tá meio traumatizado.

-É. Mas ele... Ele precisa ter calma. Minha mãe é chata, mas ela... Ela faz isso por mim. Igual a ele. Ele fala essas babaquices pelo nosso bem...

-Ele precisa saber que alguém entende que ele quer ser legal, apenas. Talvez você devesse falar com ele. Ou...

-Eu falo. Mas é melhor deixar ele se acalmar.

-De fato. -Julian disse. -Vamos ver... Eu acho que a gente devia levar todos vocês em um psicólogo e...

Julian olhou para um lado do grande campo, e ergueu uma sobrancelha. Axel estava vindo em sua direção.

-Quem... Quem é aquele? -Zack questionou.

-Um ex-aluno. Eu preciso falar com ele. Desculpe, Zack.

Julian foi até Axel. Axel sorriu para ele.

-Bem, parece que você ainda lembra de mim.

-Claro que lembraria. Meu aluno mais ligeiro. -Julian sorriu e abraçou Axel. -Como vai, moleque?

-Ah, você sabe, corrida. -Os dois riram.

-Você fez um bom trabalho ontem. Como achou a gente?

-A Alex estava pedindo socorro. A coitadinha quase morreu na beira da estrada. Ainda bem que eu quem achei ela lá.

-É. Ainda bem mesmo. Se não é aquela menina...

-Alguma coisa teria acontecido. E eu queria saber o quê é que está acontecendo. Julian, quem era aquela gente?

-Uma longa história. Aparentemente eles acreditam que podem criar um novo mundo perfeito.

-Malucos. -Axel resumiu.

-Exato. Mas agora eles ao menos vão se aquietar. Já as crianças...

-Nunca vão esquecer a noite de ontem. -Axel suspirou. -Eu... Queria conhecer os Mirai. Por isso estou aqui. Já tenho umas ideias para ajudar.

-Sério? -Julian ergueu uma sobrancelha. -Então...

-Chame eles. Quero os cinco.

-Certo.

Julian levou algum tempo, mas os cinco acabaram se juntando. Scott não falava com ninguém. Os sete foram para uma parte mais afastada, onde não estavam sendo ouvidos.

-Bem, olá, galera. -Axel sorriu. -Eu sou o Axel.

-Oi. -Hector disse.

O grupo o cumprimentou, todos desanimados.

-É... -Axel coçou a cabeça. -Eu precisei me esforçar pra vir aqui hoje. Ontem de noite eu... Bem, eu nem me apresentei. Desculpem. Eu sou Axel, o Lâmina Dourada!

-O quê? -David arregalou os olhos. -Você...

-Sim. Eu mesmo.

-Tá bom. -Max disse.

-Ele é. -Julian falou.

-Eu acredito. -Max não demonstrava nenhuma reação.

-Mas você... -Zack começou.

-Parem. Por favor. -Axel interrompeu. -A questão é que eu sei quem vocês são. Eu falo com espíritos. Então sei sobre vocês.

-Espíritos? -Scott ergueu a sobrancelha. -Você é esquizofrênico?

-Não, crianças. O Joe me falou sobre vocês cinco.

-O... -Hector arregalou os olhos. Todos ficaram em choque.

-O Joe Ardenbrough. Ele me contou sobre cada um de vocês cinco. Ele me disse que está orgulhoso de como vocês se empenharam em seguir em frente. Em como cuidaram da Erine. E em como vocês enfrentaram a Gyazom ontem, mesmo com uma probabilidade mínima de vencer. Vocês são realmente fodas.

-Cara, se isso for uma brincadeira, é melhor parar. -David disse. -Tem coisas com que não se brinca.

-Não é brincadeira. Eu sei, é meio bizarro eu falar isso. Mas o Joe realmente me contou sobre vocês. Ele está orgulhoso de tudo que fizeram e que vão fazer. Ele queria que eu dissesse isso para vocês antes de partir.

-Só isso? -Hector olhou feio para Axel.

-Acho que sim. Ah, também perdoem a Anne. Ela não fez por mal.

-O quê ela fez? -Julian perguntou.

-Não sei. Mas... Bem, vocês vão conseguir viver com isso. Eu queria dar oi, e elogiar vocês cinco. Eu também vou falar com uma amiga que pode ajudar o Hector com o poder dele.

-Valeu. -Hector fez um sinal de beleza com a mão.

-Bem, eu preciso ir. A gente ainda vai se ver, não se esqueçam de mim. -Axel sorriu. -E lembrem de não deixar a Alex falar por aí sobre mim.

Axel saiu dali, à distância, ele via o fantasma de Joe se esvaindo como vapor. Era o último adeus dele. Axel acenou para Alex quando a viu. Alex sorriu para ele.

Ao meio dia, o ônibus foi buscar a turma. Sonia, Andros e Anny foram se despedir.

-Oi, amiga, me perdoa por tudo. -Starla abraço Sonia.

-Não é culpa sua. -Sonia suspirou. -Aqueles caras eram loucos. Se eles voltarem, eu mesma mato eles.

-Por favor, miga, se cuida. -Starla abraçou ela outra vez.

-Ei, profe, quero te ver aqui ano que vem! -Anny sorriu para Starla. As duas se abraçaram.

-Qual é, fessora, volta pra gente no próximo fim de ano! -Andros sorriu.

-Então, até mais. -Julian abraçou os três também.

Andros deu um abraço em Alex.

-É, mocinha. Tu fez um ótimo trabalho. Continua assim.

-Andros... -Alex começou a chorar. -Quero ver você aqui quando eu vier de novo, tá bom?

-Tá bem, amiga.

-Tchau, Anny! -David cantarolou, triste. -Eu espero que os ventos do destino nos tragam um novo encontro! Até lá, cuide-se, minha donzela!

-Mas quê... -Scott olhou para ele.

-Caraca... -Anny sorriu. -Tchau, mocinho fofo.

Anny apertou as bochechas dele.

-Tchau, galera. -Hector disse. -Desculpa pela guarita.

-É. -Claire disse.

-E quando o William Draakins vir visitar vocês, digam que eu mandei um abraço. -Hector sorriu.

-Ei, Hector, será que ele não ia te buscar aqui? -Max ergueu a sobrancelha.

-Acho que não.

-Ele está sob minha responsabilidade! -Starla interrompeu. -Eu quem cuido do Hector hoje!

-E do Nosferatu também... -Zack completou.

-Falando nisso... -Julian olhou em volta. -Cadê ele?

-Vai procurar um lugar vazio. -Starla disse. -Aí vou levar ele para casa e tentar adotar ele legalmente.

-Sei. -Julian riu. -Espero que você seja uma boa mãe.

-É meu sonho de vida! -Starla sorriu.

-Bem, vamos? -Julian olhou para os alunos.

-Vamos. -Hector respondeu.

Todos entraram no ônibus, e então partiram de volta para Gardeville. No final, todos detestaram a viagem, mas ao menos venceram uma batalha. Sua primeira vitória. E no fim daquele dia, estavam todos reunidos na frente do colégio, ouvindo a turba que seus pais prepararam na frente do colégio.

Hector sorriu e olhou para Max.

-É, a coisa vai ser feia. -Ele riu.

-Muito. -Max riu também. -A mãe do Zack vai espancar o Julian.

-É, -Julian suspirou e sorriu. -A nossa maior batalha vai ser agora.

Ele riu, e então, desceu do ônibus.