A fumaça cobria todo o lugar, eram dezenas de casas incendiadas e corpos carbonizados, mesmo com o som do trote dos cavalos Rina não olhava para trás e corria o mais rápido que podia enquanto segurava forte o grimório da família.
Em um piscar de olhos seu lar tinha se desfeito e ela não tinha ideia de pra onde ir, só sentia que correr era sua única escolha.
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Longe dali o rei de Vitália estava mais uma vez em uma entediante celebração, seu aniversário, quando o povo alegre agradecia por tê-lo e jurava lealdade. Na verdade esse dia para ele não passava de uma lembrança do quanto a magia arruinou sua vida tirando dele seus pais e sua alegria. Enquanto os nobres se serviam no banquete do salão principal, os camponeses enchiam as ruas com enormes mesas e galões de vinho, com as mesas fartas das mais variadas comidas cuja preparação levou dias, Vitália vivia um bom momento. O rei levantou a mão fez um pequeno aceno e disse — Se sirvam a vontade.— Saiu sem dizer mais nada e recusou que seus guardas o seguissem, caminhou sozinho e com semblante sério até o final do corredor onde viu seu quarto, mas não quis entrar, em vez disso ele seguiu o caminho da direita onde levava aos túneis, não sabia por que e nem entendeu como não pode parar, cada passo que dava pedia por outro e mais outro e já não tinha mais controle sobre sí.
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Finalmente Rina estava longe o suficiente para descansar e pensar um pouco, folheou o grimório e não pensou duas vezes antes de procurar por seu protetor. Suas mãos tremiam, seu corpo pesava e ela sabia que não era difícil encontrar só precisava pensar em segurança, em lealdade e em estar pra sempre sem medo, o difícil era lidar com o tipo de pessoa que ele seria, seu medo real era ele não ser o que ela imaginava e ainda assim ter que viver com ele para o resto de sua vida.
Lembrou como foi boba horas atrás e brigou com seus pais por causa disso, gritou o quanto não queria estar presa a ninguém e que um desconhecido jamais a faria se sentir segura, jurou que não aceitaria o legado da família se pra isso ela tivesse que sacrificar sua liberdade e agora ela tem que encontrar ele mesmo não estando na idade e nem tendo todo o conhecimento passado pelos ancestrais.
Ouviu as passadas fortes dos cavalos e voltou a focar no presente, encontrou o feitiço no livro e entoou um cântico antigo, se sentiu tonta, seu corpo pendeu para um lado e para o outro foi caindo lentamente e no chão seu corpo parecia criar raízes se sentiu atraída, despedaçada e finalmente reconstruída.
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Já estava no final do túnel e não entendia o porquê de continuar andando, sem demora o vento forte vindo da floresta bagunçou todo seu cabelo, o uivo dos lobos cessava e da floresta saiam galhos e garras tentando agarrar o corpo de uma jovem pálida, caído desajeitado e parecia sem vida, viu que ela segurou ainda mais forte o livro que carregava, não soube por que, mas seu corpo inteiro doía, estava tonto e se sentia tão triste só queria pegar a moça e sair dali, com um impulso forte de proteger ela a todo custo correu e a arrancou das garras da floresta que uivou e sacudiu em repreensão. Na metade do caminho entre túneis e a passagem secreta que dava ao seu quarto ele sentiu ela mexer em seus braços, olhou para baixo e a viu com olhos assustados e testa franzida, ela queria dizer algo, mas estava sonolenta demais para isso.
O rei tateou pelas pedras mármore do túnel e abriu a passagem para o seu quarto, colocou ela na cama e sentou ao seu lado,Rina o olhou finalmente sem medo e disse —Eu te achei.