Uma vasta planície desértica se estendia por quilômetros e quilômetros entre as montanhas gunung merah e o oceano baixo, no centro dessa planície se erguia da areia cinza uma imponente muralha tão antiga quanto a própria história, a famosa cidadela cinzenta, ou como era mais conhecida: A capital dos mortos, habitada por bruxos, necromantes, magos, assassinos, piratas, caçadores de recompensa, grupos de mercenários e traficantes de escravos. Era também onde se localizavam as cátedras ocultistas das mais variadas escolas de magia do continente zeleniano, proibidas de serem praticadas pela igreja menara a oficial dos reinos humanos.
Évora, uma jovem bruxa de olhos verdes que se assemelhavam a duas esmeraldas cintilantes, longos cabelos negros como o céu da noite mais escura e de pele pálida como a neve que cobre o solo da floresta de zemlatenáh. Trazida de terras desconhecidas como escrava para a cidade dos mortos, foi comprada ainda criança por um velho mestre feiticeiro que percebeu a aptidão nata da garota pelas artes ocultas, e lhe ensinou a manipulação das antigas bruxarias, assim como os mais poderosos rituais e a fabricação de diversas poções magicas. Entretanto o velho bruxo nunca soube responder as questões que tiravam o sono daquela jovem bruxa. De onde ela vinha? Ela teria algum parente vivo? Por que ela não tinha lembranças a respeito disso? Será se existe algum ritual com o qual ela pudesse sanar essas dúvidas? Até então nenhuma resposta parecia ser alcançável, até que teve início a sua aventura.
Era uma noite tranquila na cidade dos mortos, Évora gostava de caminhar na muralha, de onde podia ver o deserto e as montanhas ao longe, e após alguns minutos de caminhada ela parou próximo ao portão norte, e lançou seu olhar na direção das montanhas vermelhas, uma rajada de vento invadiu a cidade vinda do oceano e atrás de Évora se materializou uma entidade obscura que tocou o ombro da jovem.
— Magia é o dom de oferecer sugestões ao universo, para que ele realize as ações — Disse a entidade.
— Você minha querida, terá toda a sua atenção, lembre-se disso. As suas respostas estão além das montanhas gunung merah, na terra dos comuns.
— Membawanya kembali kepada saya — a entidade sussurrou no ouvido esquerdo de Évora enquanto se esvaía junta a brisa gélida do deserto dos mortos.
E mais uma vez, o sinistro vendaval atravessou a cidade, só que na direção contrária, ele havia retornado para seu lugar de origem além do oceano baixo, deixando Évora desorientada sem compreender oque havia ocorrido, ela cobriu o rosto com seu capuz e saltou a muralha correndo em direção a cripta onde morava, pois precisava informar ao mestre feiticeiro oque lhe-havia ocorrido.
O velho homem andava enquanto erguia uma vela em sua mão direita e mantinha um enorme livro de capa escura debaixo de seu braço esquerdo, sua expressão facial parecia tensa. Aquele vendaval, ele conhecia aquilo, já havia presenciado aquele fenômeno, e sabia oque significava. Antes que desse mais um passo, a porta da cripta se abriu e Évora entrou apressadamente trancando-a logo em seguida.
— Ai está você minha jovem, eu temia que esse dia chegasse. Tenho lhe instruído nas artes místicas desde quando você era apenas uma garotinha assustada e chorona — disse o velho mestre.
— MAS O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO NESSA CIDADE HOJE? ALGUM TIPO DE ESPÍRITO DAS SOMBRAS VEIO ATÉ MIM E FALOU UM MONTE DE COISAS SEM SENTIDO, MESTRE, EU NÃO ENTENDO — gritou Évora.
— Acalme-se minha querida, infelizmente não temos tempo para conversar a respeito, você deve abandonar esta cidade agora mesmo, siga até as zonas livres, sua irmã mais nova lhe aguarda na capital, você precisa proteger a pequena rainha custe oque custar. Veja, este é o grimório das nove luas, as magias mais poderosas já criadas estão descritas aqui neste livro, ele será sua arma, agora vá!!! — ordenou mestre feiticeiro.
Antes que Évora pudesse questiona-lo mais uma vez, o mestre pegou a vela e a despedaçou enquanto recitava uma de suas velhas bruxarias, a chama da vela rapidamente assumiu um tom de cor azulado e envolveu o corpo de Évora, que em um único instante saltou e despedaçou a antiga porta da cripta, dirigindo-se em direção ao norte em altíssima velocidade que aos olhos humanos aparentava se tratar de um relâmpago mágico.
— Quem era aquela garota...?
Assim que ouviu a aquela voz poderosa, o velho feiticeiro não pode conter o sentimento de medo. Espantado olhou para aquela figura, um homem alto de postura nobre, com longos cabelos prateados e olhos vermelhos cor de sangue, apesar de trajar elegantes vestes negras que cobriam-lhe todo o corpo, era visível que possuía uma musculatura bem desenvolvida. Aquele homem de aparência encantadora e maligna se fazia inesquecível na mente de qualquer pessoa que alguma vez o avistara.
— Você por acaso não ouviu minha pergunta? - disse o homem.
— Mil perdões meu lorde, aquela era minha filha, eu a enviei para coletar alguns materiais nas montanhas vermelhas. Mas a que devo a honra de vossa presença, grande Hallaike?
— Eu vim busca-lo, estou reunindo meus servos na torre berdarah, assim que convocar a legião do medo seguiremos para os reinos dos comuns e tomaremos o meu castelo de volta. - afirmou Hallaike
— Senhor, mas já faz séculos que abandonamos o castelo, por que voltar lá agora? Teria algum motivo especial? - questionou mestre feiticeiro.
— Drackos está morto, já se passaram algumas semanas desde que deixei de sentir a energia dele, provavelmente foi derrotado e o castelo encontra-se desprotegido — Hallaike voltou seu olhar para as chamas das velas da cripta.
— Eu sinto muito meu lorde, drackos foi fiel ao seu dever, seus serviços jamais serão esquecidos - disse mestre feiticeiro.
— Ele era um tolo, mas talvez eu o traga de volta algum dia. Mas enquanto ao grimório das nove luas? Você ainda o possui? - perguntou Hallaike.
Muitas coisas aconteceram nesses últimos 512 anos, meu lorde, e eu o perdi algumas décadas atrás enquanto viajava pelas ilhas da alvorada. - respondeu mestre feiticeiro.
— Não faz diferença, acredito que tenha memorizado todos os feitiços importantes, diga-me mestre feiticeiro, ainda sabe como invocar um decaído? – Hallaike.
— Certamente meu senhor, de quantos vai precisar? – perguntou mestre feiticeiro.
— De muitos, meu velho amigo, de muitos.... — respondeu Hallaike sorrindo enquanto admirava o fogo das velas mágicas.