~Pov Ioan~
Bianca me conta sobre seu passado, desde quando previu e, logo em seguida, perdeu seus pais, pois não pode fazer nada, sua relação com as pessoas da e principalmente sobre Clara, garota que havia a salvado quando muitos lhe deram as costas. Quando falava de sua amiga tinha que dar longas pausas, mesmo parecendo que faz muito tempo foi há poucas semanas.
— Por isso você não queria voltar para a vila quando nos encontramos.
Ela balança a cabeça em positivo com meu comentário.
Além disso, finalmente entendi o que ela quis dizer com previsão. Quando nos conhecemos me lembro de falar algo sobre isso, mas não aprofundou-se muito no assunto.
— Acho que posso te mostrar isso... — Embora ainda não acredite que estou pronto para falar de meu antigo mundo. — Já que me contou sobre suas habilidades... abrir status.
A tela aparece em minha frente. Meus números realmente parecem crescer de uma forma absurda, lembro-me de Wallace e Moura, se eles me chamaram de hack naquela época pergunto o que falariam agora. Desta vez foco meu olhar no título |prodígio|. Como se movido ao meu pensamento ele desaparece, aparecendo na frente de Bianca logo em sequência.
— I... Isso é... — diz após observar por algum tempo.
Percebi faz algum tempo, Bianca sempre começa a gaguejar quando estar nervosa, realmente acho isso engraçado.
— É exatamente o que está pensando... — suspiro. — Ganhei isso no combate contra os homens-besta.
Os títulos são algo que, no geral, não entendemos cem por cento de como funcionam, eles variam bastante de pessoa para pessoa, por exemplo, dois aventureiros com a mesma classe, nível e até mesmo estilos de combates semelhantes, dificilmente conseguirão os mesmos títulos e, mesmo se conseguissem podem ter efeitos diferentes.
Eles parecem ser destinados a cada pessoa, esse, o "prodígio", é bem conhecido, porque as pessoas que o possuíam estavam destinadas a torna-se algo grande no futuro. Dizem que humanos que o possuem são levados a família real, para ter um treinamento e puderam se transformar em heróis no futuro.
— Vo... Você é um herói? — Ela dá um grito.
— Não grita. — Peço para que abaixe a voz. Ainda tem outras pessoas por perto, não quero espalhar a informação. — Não é bem assim, mas seria algo do tipo? Não sei dizer ao certo.
Existe alguma diferença entre ter este título ou não? Tecnicamente sou um herói desde o dia em que nasci.
— Bom... dia?
Não percebemos, mas enquanto conversávamos acabamos acordando Alícia. Ela olha para mim.
— Você está muito próxima. — Alícia diz olhando para Bianca.
— Que? — Ambos falamos em uníssono.
Quando olho para frente percebo o que quer dizer, Bianca estava a poucos centímetros de mim, agarrando meus braços. Parece que essa conversa escalou de uma forma estranha. Assim que percebe isso a garota fica com o rosto completamente vermelho, depois entra em desespero e se esconde embaixo de sua coberta. Depois de algum tempo conseguimos tirá-la de seu casulo.
— Você é bem calma, mas quando perde o controle é realmente engraçado — falo rindo.
Seu rosto parece estar ainda mais vermelho agora.
Após isso inserimos Alícia em nossa conversa, contando sobre tudo que estávamos falando até agora. Bianca contou a ela sobre seu passado, no entanto não precisei falar nada, afinal, ela já conhecia sobre meu passado.
— Então, Alícia deveria continuar a contar sobre sua história?
Sinto que nossa conversa está se tornando algo parecido com uma reunião de alcoólicos anônimos, mas manterei esta informação para mim.
— Sim, mas assim como disse antes, não quero te forçar a falar sobre nada — diz Bianca.
A garota pensa um pouco sobre o assunto.
— Alícia ainda não está pronta para contar sobre sua vida...
Bianca parece um pouco triste com a resposta.
— Entendo.
— Mas, pode contar sobre seu o poder. — Ela coloca a mão no pescoço, onde sempre está seu lenço e o tira, costumava usar aquilo até mesmo enquanto estava dormindo.
Várias marcas podiam ser vistas descendo pelo seu pescoço, assim como aquelas que tenho em meu braço, as marcas da doença demoníaca, conhecida como a doença mais perigosa do mundo, felizmente não é contagioso, embora não se saiba como alguém pode adquiri-la, tudo o que se sabe é que o poder mágico do infectado torna-se descontrolado causando diversos acidentes, normalmente o portador morre em um desses incidentes ou, caso sobreviva, morre porque seu corpo fica fraco e vulnerável à outras doenças.
— Eu tenho a doença demoníaca. — A voz de Alícia sai fraca, como se ainda tivesse receio de suas palavras.
Decido fazer uma explicação para evitar mal entendidos.
— Os humanos não conhecem muito sobre a doença, na verdade, as marcas são feitas por causa de poder demoníaco. — Bianca está ouvindo atentamente. — Esse poder está por todo o lugar, assim como a magia, existe naturalmente neste mundo, por isso tem lugares com mais ou com menos magia. Mas, voltando ao assunto, apenas raças demoníacas, como vampiros e demônios, tem a capacidade de absorver este poder, porém, de alguma forma, alguns humanos têm a habilidade de absorver, esse é o causador da doença demoníaca.
— É por isso que Alícia anda com você? — Ela fica animada. — No continente demoníaco eles sabem a cura?
— Infelizmente não. — Sua felicidade se vai tão rápido quanto veio. — A única medida, que sabemos, para combater a doença é o humano, que a possui, ficar perto de alguém de uma raça demoníaca, já que essas podem absorver o poder em seu lugar.
— Então esse é o verdadeiro motivos de vocês estarem juntos.
— Um deles.
Alícia havia me deixado tomar a frente na explicação, fiz isso pois percebi que não estava confortável com a conversa. Talvez estivesse com meda da reação que veria, afinal, o tratamento com as pessoas que possuem a doença é horrível, muitas vezes são expulsos de suas casas e cidades.
Bianca olho para Alícia com um olhar triste, mas não era de pena, sabendo de seu passado era fácil supor que entendesse pelo que a criança havia passado. Ela se senta ao lado dela e a abraça.
— Não se preocupe, serei sua amiga, não importa o que aconteça.
— Bianca não tem medo de Alícia? — Sua voz demonstrava sua surpresa.
— Claro que não. — Aperta o abraço. — Não importa o que aconteça, Alícia sempre será Alícia, certo?
A garota começa a chorar.
— Sim... — A voz fraca sai abafada pelo abraço.
Nesse momento podemos ouvir o som de alguém batendo na porta. Bianca faz o movimento como se fosse levantar, mas a impeço. Não queria que saísse de perto de Alícia nesse momento.
— Sou eu Seth.
Enquanto deixava as duas lá dentro saio do quarto para conversar com ele.
— O que foi? — falo fechando a porta.
— Algo ruim aconteceu. — Sua expressão era séria.
Em minha mente se passa o incidente de ontem, com os lobisomens.
— Me entregaram isso hoje de manhã. — Pega um papel e me entrega. Alguém invadiu o quarto de um dos comerciantes e colou este bilhete em sua cama.
"Vocês cometeram o erro de trazerem um sanguessuga até nossas terras, caso não façam nada irão sofrer as consequências por isso."
~Pov Gabriel~
Um grande tribunal, esta é a sensação que esse grande salão sempre me passa. É um cômodo algo, com quase cinco metros de altura, a pintura era totalmente branca, a verdade é que provavelmente foi construído para parecer com um.
— Então, diante das provas levantadas, levantem a mão todos que são a favor da intervenção da igreja na cidade de Mooi.
Todas as pessoas na sala, sem exceção alguma, levantam a mão ao mesmo tempo. Esses velhos são verdadeiramente podres, tenho certeza absoluta que receberam uma grande quantia para que votassem a favor, mas no fim não tenho moral para dizer nada, já que minha mão também está para cima. Ser controlado por alguém é um sentimento desprezível.
Olho para o meio da sala, meu olhar se cruza com o do arcebispo Manoel. Ele sorri para mim em resposta. Juro que um dia irei conseguir minha vingança.
— Assim, pela maioria dos votos, está decidido a intervenção da Igreja na cidade de Mooi, poderemos finalmente tirá-la do controle daquelas bestas. Indico como líder de nossa tropa de julgamento, Gabriel, um dos comandantes mais competentes de nossa ordem — diz jogando toda a atenção sobre mim.
Todos me observam, alguns sorriem, embora poucos, enquanto outros reviram seus olhos em desgosto, mas no fim todos levantam suas mãos para mim. Essa é uma tradição, o gesto significa que desejam boa sorte no combate, além de deixarem suas orações e desejos visando o sucesso no combate. Faço uma reverência em agradecimento.
Não vi seu rosto, mas tenho certeza que aquele velho do Manoel está sorrindo neste instante. Ser controlado por uma pessoa assim, tenho certeza que Deus estaria com vergonha do que tornou-se seus adoradores, a Igreja é apenas um fantoche no meio de jogos políticos.
Em meio a guerras, em nome do combate aos demônios o mundo está próximo de uma nova era. O pavio de pólvora está para ser aceso e, infelizmente parece que estou no centro disso. Os tempos de paz parecem estar próximos do fim.