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The Twelve Kingdoms (Juuni Kokuki) - Tradução PT-BR

🇧🇷Flap_Jack
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Synopsis
Tradução das Novels de Fuyumi Ono. As Novels inspiraram um anime de mesmo nome "The Twelve Kingdoms", produzido em 2002 pelo studio Pierrot, e adaptou parte da história. Eu me apaixonei pelo anime e sempre tive vontade de saber a continuação da história. Como não existem traduções para português, resolvi eu mesmo traduzi-la. Youko Nakajima é uma colegial exemplar, que está sempre tentando agradar aos outros. Ultimamente, uma série de pesadelos com estranhas bestas lhe perturbam o sono. Em um dia comum, Nakajima é surpreendida em sala de aula por um homem com vestes estranhas, este homem diz se chamar Keiki e ajoelhado aos seus pés lhe jura lealdade e diz que precisa levá-la a um outro lugar para protegê-la. Atordoada pela situação estranha e sem entender o que está acontecendo, eles são atacados por um pássaro gigante, parecido com os que Nakajima via em seus sonhos. Keiki foge com Nakajima para o terraço da escola, lá Nakajima se encontra com dois colegas de classe: Asano e Sugimoto, que acabam por se envolver na situação. Keiki entrega a Nakajima uma misteriosa espada e ordena que ela lute conta a besta, ela fica sem ação e indefesos contra a besta, Keiki invoca servos para que lutem contra o monstro. Não vendo mais saída, Keiki transporta os 3 para seu mundo - Os 12 Reinos - Em meio a viagem, todos acabam se separando. Agora eles devem aprender a sobreviver em um novo mundo, repleto de magia, bestas, espadas e imortais. Uma literatura rica, com um complexo desenvolvimento dos personagens, um mundo cheio de fantasia e uma invejável mitologia.
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Chapter 1 - Sombra da Lua, um Mar de Sombras - Parte 1 / Capítulo 1

Original: A Sea of Shadows, Tradução por Adriano Ribeiro

Um romance da série The Twelve Kingdoms

Por Fuyumi Ono

Parte I

Capítulo 1

Um mundo totalmente escuro. A garota encolheu-se na escuridão. De repente, surgiu, alto e claro, o eco de uma gota de água atingindo a superfície de uma lagoa calma. Uma caverna, ela imaginou primeiro, porém ela sabia que uma caverna não podia ser. A escuridão era muito ampla, longa e profunda.

Uma luz carmesim floresceu à distância. As chamas, tremeluzidas e retorcidas, mudavam em figura e forma. A conflagração subiu, lançando longas sombras sobre a pesada escuridão. As sombras de incontáveis hordas de bestas, bestas essas que pulavam e se agitavam enquanto corriam do fogo. Macacos, ratos, pássaros. Todos os tipos e espécies de criaturas.

E nenhuma que fosse possível de se encontrar em livros infantis; seus torsos muito largos e sem proporção, suas pelugens tingidas de vermelho, preto e azul.

Tais criaturas giravam como dervixes¹, erguiam e varriam o ar com suas patas dianteiras. Isso fez a garota lembrar do carnaval e de pessoas se lançando em um fervor extático². Mas mesmo enquanto eles dançavam e giravam, a atenção deles permaneceu focada nela, o sacrifício que eles carregariam para o altar.

A quatrocentas jardas de distância, suas intenções assassinas e loucas a atingiram como uma ventania. O monstro à frente do grupo abriu suas largas mandíbulas em um rugido regozijado.

Ela não ouviu nada.

Apenas o som de uma gota de água perturbando a superfície tranquila de uma lagoa.

Youko não podia desviar seu olhar das sombras apressadas. Quando eles me alcançarem, ela sabia sem sombra de dúvida, eles irão me matar. Despedaçá-la membro por membro e roer seus ossos. Mas ela não conseguia se mover. Não havia refúgio pelo qual procurar, nenhuma maneira de se defender. O sangue acelerado em suas veias, soou como o oceano em seus ouvidos.

Enquanto ela assistia, a correria se aproximou outras cem jardas.

Youko acordou com um sobressalto. Piscando suor ardente de suas pálpebras, ela respirou fundo.

"Um sonho...", ela disse em voz alta.

Ouvindo sua própria voz confirmou que ela estava, de fato, acordada. Ela não podia relaxar até que tivesse certeza. "Foi um sonho", ela repetiu. Um sonho. O mesmo sonho que a atormentava há semanas.

Youko olhou em volta de seu quarto. As densas cortinas impediam a luz de entrar. O relógio na cabeceira disse-lhe que já estava quase na hora de levantar. O que deveria fazer, exceto por seu corpo que parecia uma placa de chumbo, braços e pernas como se estivessem atolados em lama.

Os sonhos começaram há um mês. No início ela não via nada além do vazio da escuridão, não ouvia nada que não fosse a água caindo. Ela ficou na total escuridão, o terrível pânico crescendo dentro de si, desesperada pra fugir, mas estava petrificada no lugar.

Cinco noites atrás ela tinha acordado, gritando por dentro, assombrada pelo brilho vermelho, pelas sombras bruxuleantes e a mancha negra flutuando implacavelmente mais perto. Nas últimas três noites, ela compreendera a natureza das coisas temíveis que fugiam do inferno.

Dois dias, levou dois dias para que as estranhas bestas se separassem das sombras. Ela pegou sua velha boneca de pano e a abraçou no peito.

Eles estavam tão perto.

Em um mês eles cruzaram a distância do horizonte. Amanhã, ou depois de amanhã, eles estariam no alcance de sua garganta.

O que ela faria então?

Youko balançou sua cabeça.

Era apenas um sonho.

Mesmo que o sonho retornasse de novo e de novo por outro mês ou mais, era apenas um sonho. Mas dizer isso não acalmaria o medo em seu coração. Seu pulso acelerou e seu coração soou em seus ouvidos. Sua respiração ardeu em sua garganta. Ela agarrou-se à boneca de pano como se fosse a vida em si.

Ela levantou o corpo da cama. Vestiu seu uniforme seifuku³ do ensino médio e desceu as escadas. Não importa o quanto as coisas fiquem ruins, ela poderia lidar com sua rotina diária. Ela lavou sua cara e entrou na cozinha.

"Bom dia", ela disse.

Sua mãe estava à pia, preparando o café da manhã. "Você já acordou?", ela olhou por cima do ombro enquanto falava. Um olhar de preocupação atravessou seu rosto. "Você está ficando ruiva de novo", ela disse.

Por um momento, Youko não teve ideia do que ela estava falando. Então ela rapidamente puxou seu cabelo para trás da testa. Ela normalmente trançava o cabelo antes de descer para a cozinha. Ela penteara o cabelo na noite anterior e deixara a trança desfeita.

"Por que não o pinta, só pra ver como fica?"

Youko balançou a cabeça. Seus cabelos roçaram suas bochechas. O cabelo dela sempre tinha sido extraordinariamente castanho para um japonês. A exposição ao Sol e à água apenas o clareava mais. Seu cabelo chegava ao meio das costas. As pontas eram tão leves que pareciam rosadas.

"Talvez se você o aparasse um pouco?", sua mãe pressionou.

Youko não respondeu. Ela inclinou a cabeça, torcendo rapidamente o cabelo em três tranças. Assim, escurecendo um pouco a tonalidade.

"Eu imagino de qual lado da família você conseguiu isso", sua mãe refletiu com um suspiro sombrio. "Você sabe, seu professor me fez a mesma pergunta. Ele até se perguntou se você foi adotada. Imagine isso! Ele achou que seria uma boa ideia se você tingisse seu cabelo, também."

Youko disse, "Tingir o cabelo é contra as regras"4.

Sua mãe se ocupou com o café, "Então corte-o. Pelo menos, para que não se destaque tanto", disse ela em sua voz corriqueira, "A reputação de uma garota é o mais importante. Ela não deve chamar atenção para si ou dar quaisquer motivos para que ninguém questione seu caráter. Não é o tipo de coisa que você quer que aconteça, é tudo o que estou dizendo".

Youko estudou a mesa da cozinha.

"Você sabe como as pessoas olham o seu cabelo e levantam uma sobrancelha. Pare no salão na sua volta pra casa hoje e corte-o. Eu te darei o dinheiro"

Youko suspirou para si mesma.

"Você ouviu o que eu acabei de dizer?"

"Sim"

Youko encarou o dia cinza-carvão brilhando do lado de fora da janela. Estava na metade de fevereiro. O céu de inverno era frio, amplo e cruel.

Notas:

1 refere-se ao modo que os Dervixes giram em sua meditação surfi (vídeos no YouTube).

2 relativo a êxtase, que caiu em êxtase.

3 Uniforme marinheiro

4 O Ardil-22 no qual Youko se encontra não é incomum. Os regulamentos (kousoku) das escolas de ensino médio regulam o comprimento das saias de garotas, o comprimento dos cabelos de garotos, proíbe o uso de joalheria e o tingimento de cabelo. Um estudante cujo cabelo não é naturalmente preto é frequentemente suspeito de seu cabelo ter sido tingido, ou é rotulado um haafu (mestiço).