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Chapter 9 - Seminário dos pássaros

Os pássaros nutrem medo da chuva, quando tentam voar sobre ela acabam caindo por conta de suas penas absorverem a água, o que os deixa mais pesados, atrapalhando o voo.

É trágico, como tudo nesse mundo. A mesma chuva que nutre as flores é a mesma que as destroem como tiros pela precipitação.

Todos os animais sentem dor? Mas são todos que entendem a dor?

Sinto ódio e sentir ódio desse mundo é errado?

Estar vivendo aqui é como um sequestro, ninguém pediu para nascer, apenas fomos obrigados a isso.

Com nosso cérebro nos enganando todos os dias para a reprodução e sobrevivência da espécie.

Pensar sobre as mais variadas situações me deixa amargo.

E essa amargura?

Amargura é para onde vai o homem que não soube lidar com a dor, que não teve coragem de encontrar a morte, que não se submeteu aos anjos e nem se entregou aos demônios.

"Deveria tentar começar a escrever que nem gente, que nem um ser humano na próxima, isso sim" - família

"Essas fotos que você tira são vergonhosas, você deveria ter vergonha disso. Sério, você é péssimo" - melhor amigo

"Como você é ruim, lerdo, atrapalhado e idiota. É por isso que todos te fazem de trouxa, você merece tudo de ruim que acontece" - conhecidos

"Olha, esse teu cabelo tá muito feio" - meus amigos

"É porque ele é nojento. Quem que teria coragem de ficar perto dele ou até mesmo tocar nele" - colegas

Nenhuma dessas coisas, você sequer uma vez falou, mas sei que pensa o mesmo.

E está tudo bem.

Consigo entender.

Quando ela partiu, eu consegui entender.

Demorei para aceitar, mas sempre entendi.

Permeado de problemas, tanto cosmológicos quanto tão terrenos, como o medo de ser assaltado.

Medo dos ventos solares simplesmente varrerem o nosso campo magnético.

Medo do campo magnético trocar de posição e acabar com tudo.

Medo do metano e carbono nos sufocarem.

Medo de andar à noite e ser assaltado e morto.

Medo do aquecimento global.

Medo da seca.

Medo de tudo que não posso controlar.

Sentimentos ainda mais fúteis, como o de toda tentativa de chegar perto de ti, de demonstrar meu amor e medo à ti e a reação dessa ação ser seu afastamento.

Me destrói.

Vendo que, ou decepo minha mão por tentar segurar uma corda insegurável ou corto minha mão ao tentar falar de ti para ti.

Ao tentar falar

Do amor para a amada.

Do vadio para a sagrada.

Que belo revoar dos pássaros antes caídos pelo veneno fúnebre e pútrido da atmosfera desse mundão.

Agora.

Zumbificados pelas máquinas, amáveis e eternos.

Gordos pela genética.

Abatidos pela fome.

Não nego.

Mas não trago.

Não trago a fuligem dos campos estéreis.