- Vossa Majestade? Estás acordado?
Ouço vozes... mas que coisa. Achei que havia tido pesadelos; pesadelos em relação a morte. Oras, cérebro! Se hei de brincar comigo que o faça direito. Fazer-me imaginar realeza é brincadeira de mau gosto!
Levanto-me após breve esbravejo de dor em minhas costas, limpo meus olhos de possíveis sujeiras matutinas e olho em redor. Como encontrei-me em um quarto tão avantajado de beleza e ares de nobreza quanto este? Não lembro-me de ter ganho, em algum momento, dezenas de milhões de Reais para vir de ter algo parecido com isto!
- Vossa Majestade – ouço a voz de um homem –, estás bem? Precisas que trago a ti alguma coisa de beber? Café, ou Chá, ou algo que te acordes bem e alivies vossas dores nas costas, afinal de contas caíste em mal feita de vossa montaria por tarde de ontem, Vossa Majestade.
- Eu? Cai de quê? E quem disse que sou 'Vossa Majestade', oras... sou apenas um servidor público medíocre da cidade do Rio, não chame-me como tal! – penso deveras atônito;
- Estás bem, Vossa Majestade?
- Que história é essa de 'Vossa Majestade', Sr.? Sequer sei vosso nome. Não chames-me de nada que não meu nome: Rafael Soares de Oliveira!
- 'Rafael Soares de Oliveira'? Aloucou-se, Vossa Majestade? Parece que a queda de vossa sela parece que dementiu-vos. Necessitas que trago um médico à Vossa Majestade? – afirma o homem.
- Apenas saia. Estou cansado e necessito de dormir! – deito-me virado em direção à janela, para fingir adormecer até a saída do homem.
Essa conversa maluca deixa-me deslocado mentalmente. Sinto-me atônico, pois este Sr. deixou-me com bastante incerteza com o que está acontecendo.
Levanto-me.
- Sinto que estou mais alto...? Por quê minhas mãos estão maiores? Por quê estou com o corpo assaz largo? Nunca fui um cara alto, sequer forte. A não ser que considerem 1,77 metros de altura e 70 quilos como 'alto e forte', né? - penso estarrecido. A pulga atrás de minha orelha cresce cada vez mais! É como se sentisse, desde já, que o quê descobrisse por agora mudaria completamente minha visa - devo procurar alguma coisa para ver-me por. Devo descobrir o que está acontecendo! - comento, em baixa voz, comigo mesmo.
Enlouquecido, e com dores nas costas, vou debulhando as coisas presentes no quarto até que, enfim, acho um espelho de mão. Ao olhar-me através deste, sinto, de chofre, meu sangue esfriar, minhas mãos suarem e minhas pupilas dilatarem; este não sou eu quem olha para mim mesmo através do Espelho. Barbado, loiro, olhos azuis e queixo definido; definitivamente não sou eu. Essa pessoa que me olha através do espelho lembra-me de apenas uma pessoa, mas seria loucura pensar que sou ele, pois teria de viajar através do tempo por ao menos 150 anos para que isso se concretize...
E isso é loucura! né?